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Arquitetos: CRU! Architects
- Área: 175 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Nelson Kon
Descrição enviada pela equipe de projeto. O centro comunitário é construído em Cambury, uma cidade litorânea a 50 km de Ubatuba. Situa-se na mata Atlântica, mais especificamente no Parque Estadual da Serra do Mar - Núcleo Picinguaba, em São Paulo. A mata Atlântica é uma floresta sul-americana, que se estende ao longo da costa atlântica do Brasil, em grande parte entre as megalópoles São Paulo e Rio de Janeiro. Mais de 85% desse bioma já foi desmatado devido à agricultura, pecuária e produção de carvão. Nesta região costeira, a construção da rodovia BR101 no início dos anos setenta atraiu grileiros de terra, empresas imobiliárias e os especuladores para desenvolver seus negócios usando métodos nem sempre legais para expulsar os habitantes originais da região. 80% das terras em Cambury foram apropriadas por dois proprietários de terras (que até hoje permanecem indiferentes), expulsando os habitantes originais, forçando-os a se deslocar para áreas menos acessíveis ou outras cidades na costa.
Para proteger os remanescentes florestais, o governo criou vários parques como o Parque Estadual da Serra do Mar que foi fundado em 1977. Entretanto, deste modo, restringiu, também, significativamente as atividades de seus moradores. Há 150 anos quilombolas e caiçaras, misturados em uma comunidade homogênea, seguem uma vida tradicional baseada na agricultura, caça e pesca.
A forma que o Parque Estadual foi implantado impostou restrições sobre a coleta de frutas, agricultura e exploração de madeira. Essas restrições ambientais, mas também sua localização geográfica isolada e o analfabetismo do povo tornou a geração de renda muito limitada. Hoje, aproximadamente 50 famílias quilombolas e caiçaras vivem em Cambury, tendo como principais atividades a pesca, plantação de mandioca e turismo.
O projeto de Bamboostic oferece outros meios de sobrevivência financeira no setor da construção ecológica e tenta consolidar a unidade da comunidade através de edifícios municipais. Para o projeto, três requisitos principais foram apresentados pela associação local de Cambury: fornecer um espaço comunitário para manter reuniões, atividades escolares ou outros eventos, além de várias salas separadas para classes e espaços para armazenar material; formar uma percepção de centro geográfico do bairro; integrar o edifício dentro da paisagem circundante e a escola existente localizada no mesmo terreno.
O centro é orientado na direção do mar para aproveitar o vento principal. Elevando o teto e evitando paredes perpendiculares que podem bloquear o fluxo de ar no interior do edifício, o fluxo de ventilação é ideal. Em condições quentes e úmidas maiores velocidades de vento tem um efeito positivo sobre o bem-estar fisiológico, bem como psicológico. A altura do edifício auxilia o efeito ‘bouyoncy’; o ar fluirá conforme o mais quente sobe através do edifício e escapa no topo. Por isso, o projeto prevê abrir suas laterais. O ar quente ascendente reduz a pressão na base do edifício, puxando o ar mais frio quando há uma falta de fluxo de ar natural ou ar estagnado. Além disso, a força do vento é um fator-chave no projeto. O impacto desta força é maior quando uma construção ganha em altura (necessária para a ventilação).
Para poder ter contraventamento adequado, a triangulação da construção necessária deve ser bem estudada e executada com bastante atenção. O uso de quatro colunas, com a cinta transversal em ambas as treliças laterais é suficiente para agir como contraventamento.
A comunidade quilombola está presente há aproximadamente 300 anos em Cambury, desde que era um refúgio de escravos fugidos de plantações de café na cidade vizinha de Paraty. Sendo principalmente descendentes africanos, estes escravos fugidos das plantações trouxeram uma técnica típica de edifícios africanos de “wattle e daub” para sua comunidade. Árvores, galhos e bambu, cortes da floresta circundante foram usados para fazer um quadro no qual depois uma camada de terra molhada é lançada em ambos os lados para melhor anexar ao quadro.
Antes da introdução de materiais "modernos" de construção, o conhecimento local sobre esta técnica era excelente, mas devido à falta de transferência de tecnologia entre as gerações, apenas os mais pobres utilizavam esta técnica de forma inadequada. A mistura de terra/areia/água por exemplo foi mal executada e isto gerava rachaduras que insetos poderiam entrar, prejudicando à saúde. Nos projetos da Bamboostic, essas técnicas foram renovadas e melhoradas na proporção e técnica, adicionando outros sistemas baseados no mesmo material. Bambu foi usado para fazer quadros maiores do que as construções de pau-a-pique e a taipa também foi reintroduzida.
As paredes dos edifícios da cidade de Paraty, realizadas pelos mesmos escravos, eram feitas de taipa, mas estas técnicas não foram trazidas para suas próprios comunidades. No entanto, elas foram aplicadas no centro comunitário e introduzidas para a comunidade. A cooperativa local de eco-construção, recebeu um treinamento essencial para o projeto e teve suas habilidades aperfeiçoadas e agora podem prestar serviços de qualidade para servir diferentes clientes, uma forma de gerar uma nova receita. Ao lado da cooperativa construtora, surgiram outras formas que se relacionam diretamente com a associação do bairro para gerar renda, por exemplo os eco-monitores que fornecem renda através do turismo e a recente padaria da comunidade que fornece renda para várias mulheres que fazem e vendem pão. Artesãos locais também tem uma loja na entrada da vila, de onde agora vendem artefatos para os turistas de passagem.